Esse artigo foi publicado em abril, algumas semanas antes de On The Road receber a confirmação do financiamento. A parte interessante é que Walter Salles quer que o filme seja rodado em preto e branco.
Noite de quarta-feira, o Festival Internacional de Filmes de São Francisco premiou o Diretor Walter Salles na categoria “Director’s Award”. Walter é conhecido por seus filmes “Diários de Motocicleta”, “Central do Brasil” (vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro em 1999) e “Água Negra”. Entretanto, o tema principal da discussão, foi a proposta de Walter da produção em longo prazo e adaptação da obra “On the Road” de Jack Kerouac.
A noite foi voltada em torno de cenas do progresso do trabalho de “In Search of On the Road”, que é o documentário dirigido por Salles sobre o seu próprio caminho para obter a “possível filmagem” (como ele costumava se referir ao trabalho) de “On the Road”. O curta exibido foi organizado especificamente pela seleção SFIFF (San Francisco International Film Festival) e durou cerca de uma hora, embora a sugestão de Salles de que todo filme terminasse sendo um documentário de longa metragem regular (ele disse recentemente ao SF Gate que “foi muito impressionante editar 60 minutos, um trabalho em andamento de um documentário inacabado de 120 minutos”, e que resumisse isso bem).
Reconhecendo a gravidade de adaptar um livro como esse, o documentário é de caráter exploratório, ironicamente e apropriadamente sua própria narrativa de auto-descoberta, por trás do coração do romance e dos personagens. O mais impressionante foi o desejo profundo do diretor para realmente entender o material e capturar a humanidade espiritual, embora ele esteja obviamente vivendo com o livro e a adaptação para o cinema por muitos anos.

Embora tenha havido muito movimento recente na adaptação do longa-metragem, Garett Hedlund (“Tron”, de Friday Night Lights) foi evidentemente escalado como Moriarty e Sam Riley supostamente escalado como Sal Paradise (o representante de Kerouac) em 2009, o cineasta tristemente se recusou a entrar em pormenores ou detalhes da escalação recente e isso porque o financiamento ainda não foi definido.
Então, o que vem em primeiro lugar na cabeça das pessoas é o quão próximo o filme está de ser produzido? Infelizmente, Salles rodeou o assunto sem muito compromisso de fatos. “Você já ouviu falar do mito de Sísifo?”, brincou referindo-se ao grande número de obstáculos para o projeto. “É um trabalho de paixão e não podemos tentar mergulhar nesse território sem estar cientes das dificuldades que o cercam”. Ele também admitiu que o atual estado da produção independente nos Estados Unidos torna as coisas “complicadas”.
“Estamos na fase esperançosa de unidos tentarmos colocar tudo junto, eu espero que de alguma forma…” disse Salles não soando completamente convincente. “O que eu estou tentando expressar aqui com (“In Search of On the Road”) são as dúvidas envolvidas com a tentativa de lidar com um assunto tão mítico e tentar enriquecer a percepção que você pode ter deste material.  Enquanto o documentário propriamente dito ainda não deu nenhuma resposta a respeito de um cronograma, quando foi estabelecido que qualquer versão de “On the Road” feita corretamente deveria ser filmada em preto e branco, o público recebeu o comentário com fervoroso aplauso.
Salles é claramente uma pessoa profunda e pensativa, e talvez por isso ele enfrente esse projeto tão profundamente, com cuidado, metodicamente e com dúvidas. Embora seja um clássico romance americano, obviamente está sendo traduzido por um estranho, ele vê o livro de Kerouac como uma obra universal.
“Diários de Motocicleta foi uma revolução social e política, mas aqui há sim uma revolução política, mas há também uma revolução de comportamento em jogo. E que afetou todos nós. Podemos ter vivido em diferentes partes do mundo, falando línguas diferentes, mas isso é parte de nossas experiências também. Esse movimento significou muito e minha geração sempre foi informada por isso”.
O diretor mexicano Alejandro Gonzalez Iñarritu conduziu um Q&A com perguntas relevantes e uma dose de humor. Em certo ponto, em busca por risadas, Inarritu perguntou Salles se sua adaptação para “On the Road” seria um filme 2-D ou um filme 3-D, mas em troca recebeu uma resposta séria que teve Salles olhando para o nascimento do cinema para apoiar o caso que ele estava prestes a contar. Embora não totalmente sem humor, ele deu de ombros para a questão da terceira dimensão e afirmou categoricamente: “Eu assisti filmes incríveis no ano passado… em 2-D”.

O documentário nasceu de uma oportunidade perdida durante os anos de pré-produção que o levou a “Diários de Motocicleta”. Para obter um sentimento verdadeiro para a história, Salles repetiu a viagem de Che Guevara retratada no livro três vezes durante o qual ele pesquisou e entrevistou testemunhas primárias. Na retrospectiva, ele decidiu que a experiência em si teria feito um filme fantástico e lamentou dizendo: “Estes dois anos de exploração foram realmente únicos e eu queria ter filmado isso”. “In Search of On the Road” é a sua maneira de evitar cometer o mesmo erro novamente.
O filme pretende cobrir uma série de assuntos, mas é especialmente construído em torno de um conceito muito fiel de “On the Road”, podendo ser um filme impossível de se adaptar adequadamente. Entrevistas no filme incluem muitas testemunhas primárias das viagens de Kerouac, biógrafos, poetas e um bom número de figuras proeminentes no mundo do cinema, muitas das quais, têm em algum ponto ou outro, envolvimento em outras interações da adaptação. O curta exibido na noite passada incluiu segmentos com Francis Ford Coppola, Dennis Hopper, Johnny Depp, David Byrne, Sean Penn, Dave Eggers, Philip Glass, Wim Wenders e Peter Coyote.
Filmado em Super8 e MiniDV, o documentário também mostrou algumas imagens de uma chamada de audição aberta realizada por Coppola há 15 anos atrás na expectativa de uma versão diferente do filme. Nele, vemos Matthew McConaughey fazendo um teste para o papel de Dean Moriarty, Russel Crowe como Old Bull Lee (o personagem de William Burroughs), bem como Brendan Fraser, Mira Sorvino e Ashley Judd. A edição dos testes não é exatamente um retrato cruel dos atores, mas provavelmente não havia ninguém no teatro querendo imaginar “On the Road” com o elenco apresentado aqui.
Em uma breve seção no final do programa, Graham Leggat, Diretor Executivo do San Francisco Film Society, compara a busca de Salles para o filme ser feito ao documentário de Terry Gilliam “Lost In La Mancha”, uma escolha de palavras que claramente ilustra a briga que o diretor tem diante de si. Se nós não pudermos ter boas adaptações baseadas em clássicos profundos literários, pelo menos temos ótimos documentários sobre não fazê-lo.

Via:SublimeKristenStewart






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